Encontro LabHeN – 14/11/2019

Considerações sobre o reflorestamento realizado na Floresta da Tijuca (RJ, Brasil) na segunda metade do século XIX



À Floresta da Tijuca é atribuída a percepção, e em algum grau já uma lenda, de que toda a sua extensão é fruto do reflorestamento empreendido por um enigmático personagem, Major Manoel Gomes Archer, e seis escravos que lhes foram fornecidos, com o precípuo objetivo de salvar a cidade do Rio de Janeiro de uma iminente crise de abastecimento d’água que se avizinhava desde o início do século XIX. A floresta atual possui, no entanto, espécies poupadas do corte, espécies cujas populações foram reduzidas localmente, espécies regenerantes e espécies introduzidas (nativas e exóticas) em um original projeto de reflorestamento iniciado em 1862 e que perdurou até o final do século XIX. É interessante destacar que mesmo a estrutura florestal atual apresenta vestígios desse plantio histórico. Este empreendimento se trata, muito possivelmente, de um dos primeiros, se não o primeiro, dessa qualidade implementado nas florestas tropicais. Essa pesquisa, através do manuseio de ferramentas típicas de diferentes áreas do conhecimento, tratando-as de forma integrada, tem como objetivo principal reconhecer evidências de áreas onde houve, de fato, o plantio de mudas, no passado, além de discutir as espécies utilizadas e o porquê. Para tal, foi necessário transitar por diversas áreas do conhecimento e utilizar variadas metodologias, desde a busca por arquivos históricos até a contagem dos anéis de crescimento. As coleções botânicas, assim como a cartografia histórica e às atividades de campo também se constituíram como etapas essenciais. A proposta é unir passado e presente, no sentido de promover o diálogo entre linhas de pesquisa de natureza e escopo teóricos distintos. Assim sendo, verifica-se a importância que a floresta em questão desempenharia à época e a necessidade de conservá-las e até mesmo reflorestá-las: regulação climática, recarga de rios, entre outros. Por fim, depreende-se que que a Floresta da Tijuca não foi reflorestada em toda a sua extensão, que os interesses para o seu plantio foram diversos e que o número de pessoas envolvidas no projeto foi superior a apenas um administrador e seis escravos.

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