O Projeto Mutirão de Reflorestamento do Morro da Babilônia

Texto de Natasha Barbosa
Arte de Bruno Capilé

O Morro da Babilônia está localizado no bairro do Leme na cidade do Rio de Janeiro. Este morro, junto ao do Leme e do Urubu, se encontra ao sul da Urca, do lado ocidental da entrada da Baía de Guanabara. Desde o século XVIII, grande parte de seu perímetro compõe espaço militar protetivo, que contou com a construção de baterias e fortificações, para impedir invasões à cidade. O nome do morro, dizem alguns, faz referências aos Jardins Suspenso da Babilônia, umas das sete maravilhas do mundo antigo, hipótese verificável para quem sobe suas ladeiras pelo meio da mata e aprecia a beleza vista de seu cume.

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Forte do Leme, localizado na Ladeira do Leme, renomeada como rua Coelho Cinta. Continua a ser conexão ao bairro de Botafogo. Ilustração do Forte do Leme em 1818. Fonte: Reproduzido na Revista Brazil Illustrado Anno1, n.2, p. 21, 1918. Imagem atual do Google Street View.

O morro abriga duas favelas com períodos distintos de formação: o Morro da Babilônia e o Chapéu Mangueira. Podemos tomar o começo do século XX como marco da identificação do morro como favela, posto em descompasso a cidade moderna que se pretendia com a grande reforma urbana daquele momento. Caracterizações depreciativas quanto ao espaço, aos tipos de moradia e aos moradores, bem como a destruição da floresta que guarnecia o morro, foram elencados ao longo do tempo para reforçar para justificar uma série de medidas a “problemática das favelas” na cidade.

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A Transposição do Rio São Francisco e a História

Gabriel Pereira Oliveira (IFRN, PPGHIS/UFRJ)

“Quem controla o passado controla o futuro;

quem controla o presente controla o passado”

George Orwell, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro

Escrita logo após a Segunda Guerra Mundial como parte da obra clássica Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, a frase acima de George Orwell mostra-se cada vez mais inspiradora nos dias de hoje. Especialmente em tempos de crise, a busca de monopólio sobre as narrativas históricas torna-se estratégia decisiva para a afirmação de projetos de poder. O destaque sobre determinados eventos gloriosos ou traumáticos, sobre pretensos heróis ou vilões, tudo isso é fundamental aos arranjos sociais e políticos das mais diferentes sociedades. Aliás, não é estranho vermos o quanto alguns nomes e experiências, em geral ligadas a homens brancos e de alto prestígio, costumam ser enaltecidas por uma história oficial. Ao mesmo tempo, esse processo é acompanhado por tentativas de se deixar de fora da história uma imensidão de outras e outros protagonistas, humanos e não-humanos.

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Justiça Ambiental em Tempos de Pandemia

Mariana Alves (IH/UFRJ)

Patrick Benaion (IH/UFRJ)

A pandemia do COVID-19 e seus desafios vêm tornando as desigualdades socioambientais existentes no Brasil e no mundo ainda mais evidente, trazendo à tona a necessidade de realizar novas reflexões acerca da nossa realidade. Dessa maneira, a possibilidade de se refletir sobre a (In)Justiça Ambiental revela um potencial profícuo nos mais diversos sentidos – acadêmico, social, político – convidando-nos a indagar nosso panorama nacional sob uma outra perspectiva. Cabe, portanto, uma breve explicação sobre ao que o termo remete e demonstrar como este se relaciona a forma desigual com que a população brasileira enfrenta o vírus, revelando seu potencial de análise interpretativa do cenário atual.

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Reflexões sobre Ecofascismo em tempos de Pandemia

Natascha Otoya (Georgetown University)

Muita coisa mudou em 2020. A propagação global da pandemia causada pelo novo Coronavírus criou uma realidade de distanciamento social, confinamento doméstico e uso massivo de máscaras. Aprendemos a não tocar no rosto, relembramos a importância de lavar as mãos com frequência e inventamos maneiras de nos cumprimentar, já que beijos, abraços e apertos de mão estão temporariamente banidos. Junto com essas medidas de higiene, outras formas de contenção do vírus foram desenvolvidas ao redor do mundo. Rastreamento de contato, aplicativos de controle de isolamento social, divulgação de dados de pessoas infectadas, monitoramento com drones, marcação de residências cujas famílias têm alguém doente de Covid-19, restrições de viagens aéreas e terrestres, limitação de movimentos dentro das cidades de dos bairros, aprovação de medidas sem consulta ou voto, suspensão de limites e punições para ações governamentais de emergência[1].

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Como a circulação das coisas afeta nossa percepção de tempo? uma meditação pós-pandêmica.

Bruno Capilé

A circulação das coisas sempre foi tema dos assuntos da humanidade. As tropas de qualquer exército precisam saber circular com rapidez, eficiência e segurança. As informações necessitam chegar ao seu destinatário, se possível, sem modificações ou interrupções. O modo como queremos e como conseguimos a circulação das coisas está fortemente associado às expressões culturais de grupos sociais distintos em tempos diversos. Ela afeta profundamente a maneira como percebemos e nos relacionamos com o próprio tempo. No início do século XXI (em particular neste encontro da globalização, neoliberalismo e a pandemia do covid-19), estamos presenciando uma possível transformação na maneira como percebemos a circulação das coisas, sejam pessoas, produtos ou informações digitais. 

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