Encontro LabHeN – 07/11/2019

O Acre como caricatura: História, natureza e as representações sobre o “vazio”, o “distante” e o “inferior”

Nesta quinta-feira, 07/11, às 14h, apresentação de Francisco Bento da Silva, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Acre e pós-doutorando no PPGHIS.

O foco ventral é discutir questões relacionadas à forma como o Acre é retratado em âmbito nacional e local a desde o período em que começam as disputas pelo território entre bolivianos e brasileiros, passando pela sua incorporação ao Brasil (1903) até o fim do Território Federal do Acre em 1962. Essas imagens e representações têm como suportes matérias de jornais, charges, versos, canções, relatos de viagens, obras memorialísticas, obras literárias e relatórios oficiais que mostram o Acre como um lugar que vai de uma espécie de inferno ou ao seu oposto, um paraíso edênico e terreal, tendo uma natureza como centralidade dessas representações e imagens potentes. Nas décadas finais do XIX e iniciais do XX o Acre é apresentado comumente como uma localidade distante do Brasil, situado nos “confins” da Amazônia e habitado por “selvagens” e sertanejos “tumultuários” migrantes do “nordeste”, tornando-se objeto de múltiplos discursos que o generalizam, estereotipam e estigmatizam o lugar (espaço/natureza) e a sociedade local no período em destaque (tempo).
Para articular a analise do material empírico das fontes primárias com as categorias conceituais utilizadas nesta proposta de trabalho, iremos dialogar e se apoiar em estudos e discussões de alguns autores como: George Didi-Huberman (2017), como sua obra Diante do tempo: historia da arte e anacronismo das imagens; deste mesmo autor, Quando as imagens tomam posição: O olho da história (2015); Walter Benjamin (2013), O anjo da história; Stuart Hall (2013), Cultura e representação; Durval M. Albuquerque Junior (2007), História, a arte de inventar o passado; Luciana Murari (2007), Brasil, ficção geográfica; Roger Chartier (2011), O passado no presente: ficção e memória; David Arnold (2000), La naturaleza como problema histórico; Outras naturezas, outras culturas, Phillipe Descola (2016); e, Tim Ingold & Gisli Palsson (2013), Biosocial becomings, entre outros autores que forem pertinentes ao debate relacionado à temática de pesquisa apresentada.

Encontro LabHeN – 31/10/2019

O Laboratório de História e Natureza continua suas atividades nesta quinta-feira, 31/10, às 14h.

Com a apresentação de Hana Mariana da Cruz Ribeiro Costa, doutoranda no PPGHIS e participante do LabHeN.

Trabalhando o sal: natureza e sociedade no processo de industrialização da salicultura na Região dos Lagos Fluminense (1940 – 1970)

Resumo:

Este trabalho, ainda em desenvolvimento, tem por objeto a produção salineira no entorno da Lagoa de Araruama, onde hoje se localizam os municípios de Saquarema, Araruama e Cabo Frio, durante os anos de 1940 a 1980. O objetivo consiste em investigar as dinâmicas socioambientais existentes na região e suas transformações ao longo da industrialização que teve início na região a partir de 1940. Produção voltada para o abastecimento do mercado interno regional, a salicultura desenvolveu-se à margem da Lagoa de Araruama, e no litoral do Rio de Janeiro, em salinas artificiais a partir da segunda metade do século XIX. O auge de sua produção deu-se na primeira metade do século XX, tendo como momento importante a aplicação da política desenvolvimentista de Vargas na região a partir dos anos de 1940. Seu declínio começou na década de 1970 e abriu espaço para a consolidação do turismo como a principal atividade da região. O uso de fontes primárias como documentos disponíveis no Arquivo Nacional sobre o Instituto Nacional do Sal; relatórios das salinas e aforamentos disponíveis na Câmara Municipal de Cabo frio e a coleta de relatos de moradores da região, nos permitirá analisar as relações entre humano e natureza mediadas pelo trabalho nas salinas. Buscamos aqui a compreensão das relações entre os elementos humanos e não humanos na Região dos Lagos Fluminense a partir de um projeto político de industrialização nacional, que levou a produção salineira para além do abastecimento regional. Essa mudança deixou reflexos não só na produção do sal, mas também em seus trabalhadores e nas formas destes se relacionarem com o trabalho nas salinas, com as outras atividades que exerciam, com a natureza e com seus próprios corpos.

Encontro LabHeN – 17/10/2019

O Laboratório de História e Natureza continuará suas atividades no próximo dia 17/10, quinta-feira, às 14h.

Na reunião teremos a apresentação de Gabriel Pereira de Oliveira, doutorando no PPGHIS e participante do LabHeN.

A reunião será também ocasião para o lançamento do livro “A corrida pelo Rio: projetos da canais para o rio São Francisco e disputas territoriais no Império brasileiro (1846-1886)”.

Mais informações

Resumo:

Esta apresentação tem a proposta de pensar o Brasil monárquico a partir de um de seus principais rios, o São Francisco, que percorria províncias importantes e foi o curso d’água mais mapeado no Brasil oitocentista. Com o maior leito situado completamente no então território monárquico,seu leito foi de grande importância para as conformações do território do Brasil. Naquela época, em meio à expansão do capital e à necessidade crescente de ampliar o comércio e interligar os centros produtores aos mercados de consumo, o rio São Francisco despontava como uma grande possibilidade de via de comunicação capaz de interligar norte e sul, sertão e litoral do Império do Brasil. Porém, havia vários elementos ao longo do leito fluvial que fizeram o governo brasileiro e de algumas províncias repensarem seus usos e projeções do rio. Com base nos pressupostos da história ambiental, analisarei essa relação entre as particularidades biofísicas do rio São Francisco e os projetos em torno desse leito fluvial ao longo do século XIX, em especial o projeto de canalização de suas águas para porções mais setentrionais do Brasil.

Encontro LabHeN – 10/10/2019

Na reunião desta quinta-feira, 10/10/19,teremos a apresentação de Paula Fortini, estudante de graduação da UFRJ e participante do laboratório.

O titulo da apresentação será:

“Por uma comida sem veneno”: a formação e consolidação do movimento agroecológico no Rio de Janeiro (1979 – 2010)

A chamada “Revolução Verde”, que despontou após a Segunda Guerra Mundial, tornou hegemônico um sistema de maximização da produção agrícola por meio de pacotes tecnológicos químicos implementados nos sistemas de cultivo, A intenção era de fomentar a produtividade em quantidade, independente das questões sociais e ecológicas. No Brasil, esse método de produção se tornou política pública no início do período de governo dos militares, especificamente, entre 1961-64, que ocasionou a marginalização dos agricultores e produtores rurais, assim como violência e êxodo rural.
Em 1979, abarcados por um movimento ambientalista que crescia mundialmente, um casal na cidade do Rio de Janeiro publicou uma carta aos leitores do Jornal do Brasil fazendo a chamada “Por uma comida sem veneno”, com o ideal de consumir alimentos frescos, puros e baratos, ou seja, orgânicos, e de criar um modelo de vida mais sustentável. Assim, um grupo de pessoas com ideologias ecológicas se uniu e mobilizou a busca de alternativa alimentar, dando marco inicial ao movimento agroecológico com a fundação da Associação Harmonia Ambiental COONATURA.
A pesquisa tem por objetivo compreender a formação, desenvolvimento e consolidação do movimento agroecológico na cidade do Rio de Janeiro iniciado em 1979 até o período de 2010. E, também, de analisar as transformações socioambientais, econômicas, culturais e políticas que ocorreram no meio rural e urbano, entre produtores e consumidores, e na dinâmica da cidade por meio da agroecologia.

Encontro LabHeN – 03/10/2019

Uma geração sem terra: a hidrelétrica de Itaparica e a luta para indenização do povo Tuxá

Na reunião desta quinta-feira, 03/10, teremos a apresentação de Matthew P. Johnson, doutorando na Georgetown University e participante do LabHeN.

O Brasil se beneficiou muito com suas hidrelétricas. Essas grandes usinas trouxeram eletricidade barata facilitando o crescimento industrial e urbano. No início do século XXI, as hidrelétricas foram responsáveis por mais de 95% da eletricidade consumida no país. Deste então, essa percentagem diminuiu, mas as hidrelétricas ainda são responsáveis por mais de 2/3 da eletricidade consumida no país. Apesar dos benefícios, essas grandes barragens também trouxeram graves consequências sociais e ambientais.

Comunidades indígenas têm sofrido muito com a construção de hidrelétricas. Grandes reservatórios inundaram terras indígenas e degradaram os recursos naturais dos quais essas comunidades dependem para sobreviver. Reservatórios na Amazônia foram especialmente danosos. Mas várias comunidades indígenas atingidas por barragens na Amazônia conseguiram um apoio doméstico e internacional que as ajudou a pressionarem o governo brasileiro por compensações. Já comunidades indígenas fora da Amazônia têm tido uma luta muito mais difícil para conseguir apoio e pressionar os governos por indenizações justas. Por exemplo, em 1988, a Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco (CHESF) concluiu a barragem de Itaparica, que alagou a terra do povoTuxá na região do município de Rodelas.

 A CHESF prometeu terra para os Tuxá para compensar pela área inundada, mas, apesar das promessas, trinta e um anos mais tarde eles ainda estão sem-terra.
Essa apresentação conta a história da hidrelétrica de Itaparica e do povo Tuxá, inclusive discutindo algumas razões pelas quais ele continuam sem terra e com sua história esquecida. Nas décadas de 1980 e 1990, as polêmicas relativas à hidrelétrica de Itaparica se tornaram notícia internacional e a situação dos desapropriados chegou até o senador Bernie Sanders, nos Estados Unidos, que reclamou do problema junto ao Banco Mundial.

O Banco tinha emprestado dinheiro para projetos de realocação dos atingidos, mas não para a construção da hidrelétrica. Assim, a comunidade internacional prestou mais atenção à situação dos atingidos. Esta pressão ajudou, e em 6 de dezembro 1986 os atingidos conseguiram concessões importantes da CHESF, que ajudaram a garantir que o processo de realocação fosse realizado de uma maneira melhor do que, por exemplo, no caso do desastre que ocorreu quando o reservatório de Sobradinho, a montante no Rio São Francisco, vazou uma década antes.


No entanto, desde os anos 1990s a situação do povo Tuxá, que de fato nunca foi resolvida, caiu em esquecimento. Assim, além de investigar os impactos ambientais das hidrelétricas e o papel do apoio internacional aos atingidos, o trabalho pretende também chamar atenção para um conflito que não está resolvido.