Memória, agricultura e natureza nos altiplanos bolivianos: a experiência da Escuela-Ayllu de Warisata (1931-1940
O Laboratório de História e Natureza continuará suas atividades no próximo dia 21/11, às 14h. Apresentação de Bruno Azambuja Araujo, doutorando PPGHIS UFRJ e participante do LabHeN.
A Escuela-Ayllu de Warisata se instalou na província de Omasuyus, departamento de La Paz, em meio ao altiplano boliviano em agosto de 1931. Com pretensão de servir de modelo para outras localidades da América Latina e em profícuo diálogo com as escolas rurais mexicanas de Lázaro Cárdenas no mesmo período, ainda hoje é considerada um marco da educação indígena neste continente. Encravada entre as montanhas nevadas andinas e o lago Titicaca, a escola tinha como proposta aliar os saberes indígenas ligados à uma reivindicada tradição Inca e pré-hispânica com os problemas enfrentados naquele momento pelas comunidades locais, principalmente no que tange ao acesso à terra. A escola se organizava em torno de saberes práticos que envolviam desde a construção com materiais da região até o desenvolvimento pedagógico de campos de experimentação agrícola. A relação do trabalho com o ambiente bio-físico, tido como hostil, aparece de forma marcante na fonte auto-biográfica de Elizardo Pérez, um dos fundadores do projeto. Para pensarmos essa relação e o princípio pedagógico que regia a escola, veremos como essa memória bio-cultural dos povos indígenas da região estava atrelada a uma ideia de produtividade. Essa produção, além de abastecer a escola, alcançou também os mercados regionais e serviu como argumento legitimador do papel e da importância da escola perante ao estado e a sociedade boliviana dos anos 1930.