“Eu não dei o meu dinheiro para inglês nenhum”: o ideal de nação e a seca de 1825 no norte do Brasil
Gabriel Pereira, doutorando do PPGHIS/UFRJ, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
A década de 1820 foi muito importante para a edificação do Estado monárquico brasileiro. Desde as disputas em torno das definições de aparatos políticos e institucionais até guerras de fato, como foi o caso da Confederação do Equador ou da Cisplatina, aquele momento inicial do Império também viu bem de perto o desafio de como lidar com a noção de “desastre” e de “socorro” a partir da seca no norte. Este artigo analisa a importância dessa intempérie no jogo político de definições do Império e de conformação de um lugar para aquela porção nortista, tão distante geográfica e politicamente da Corte no Rio de Janeiro. Com base em documentos como os anais parlamentares do Império, esta pesquisa busca ampliar a discussão historiográfica que considera a seca como tema relevante somente a partir de 1877 e compreender como, ante o desafio de difusão da ordem monárquica, o flagelo comovente em torno da escassez de chuvas tornou-se uma arma política muito peculiar naquela época, tanto ao governo imperial como também a outros grupos espalhados pelo Brasil.